A coisa mais perigosa que já fiz
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A coisa mais perigosa que já fiz

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Subjetivamente, a coisa mais perigosa que já fiz, foi escalar montanhas durante uma tempestade. Tenho uma fobia dos raios e não saio da casa, quando sei que vai haver tempestades elétricas naquele dia. Portanto, nunca tive tanto medo quando uma vez durante uma caminhada nos Alpes austríacos.

Com o meu companheiro da época, já tínhamos chegado a 100 metros do pico, então quase o conquistámos, quando se desencadeou uma repentina tempestade, daqueles que são tão difíceis de prever. Ao ouvir o primeiro raio, senti uma fraqueza invadir todo o meu corpo e pensei que desmaiaria. Estavamos a uma altitude de mais de 2000 m, onde não havia nada além de rochas nuas - então, estavamos nós os pontos mais altos da área: ótimos alvos para um raio.

Tentei pensar de forma racional, porque sabia que só isso podia salvar-me do pânico. Sobretudo, tínhamos de nos deitar no chão e nos livrar de todos os objetos eletrónicos. O meu companheiro sujeitou-se, relutante, às minhas direções (já sabia que com o pânico não se discute) e confiou-me a sua preciosa câmara digital. Meu primeiro instinto foi lançar todos os objetos metálicos o mais longe possível. Mas tive um outra ideia. Tremendo de medo, escolhi uma rocha mais alta e coloquei na cima dela os nossos bastões de montanhismo, verticalmente, e rodeei-os dos outros objetos metálicos. Aquilo deveria ser uma sorte de para-raios... Nós afastámo-nos e deitámo-nos numa espécie de depressão, para esperar ali pelo fim da tempestade... ou da nossa vida... Entrei no modo romântico e tentei falar com o meu companheiro de todas as coisas que íamos fazer, se sobrevivermos... Mas ele estava demasiado frustrado por causa da cima que estava tão perto e não estava disposto a falar nisso.

Não falecemos aquele dia e também não foi issa, objetivamente, a coisa mais perigosa que já fiz. Quando fiz a coisa mais perigosa da minha vida, não tinha medo nenhum. Tinha o coração partido depois duma separação e não me dava bem conta de que fazia. Para distrair-me dos pensamentos tristes, fazia sozinha longas excursões de bicicleta. Certa vez, durante uma daquelas voltas, tive de atravessar um rio e encontrei uma ponte, mas era uma ponte ferroviária. Dei uma olhada num mapa e descobri que a ponte mas próxima aberta à circulação estava a quilômetros de distância. Não pensei duas vezes, mas carreguei a minha bicicleta pela escada estreita que era provavelemente usada para a manutenção da ferrovia e subi em cima. Caminhei pelos trilhos, empurrando a bicicleta, até ao outro lado do rio. Naquele momento, não pensei mais nisso.

Só algum tempo depois pensei no que tinha feito exatamente naquele dia e sobre a minha boa sorte que manteve todos os comboios longe de mim.

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