Há um ano, passei a Páscoa com uma minha amiga portuguesa e a sua família, na casa deles no Algarve. Ela tinha-se mudado de volta para Portugal alguns meses antes, da Polónia, onde nós nos tínhamos conhecido, e foi uma alegria vê-la novamente. Estava também feliz de poder observar como uma família portuguesa celebra a Páscoa (as minhas conclusões: não a celebram - mas isso é um assunto diferente).
Eu e a Tânia somos vegetarianas e a mãe dela fez o esforço de preparar alguns pratos sem carne para compor um jantar completo, com, entre outros, deliciosos legumes da sua horta.
O dia desenrolou-se alegremente, conversámos em parte em inglés (com a Tânia e a família do seu irmão) e em parte em português com os pais da Tânia, que só falam português. À noite, o irmão despediu-se cedo, por causa do seu bebé e a Tânia também se deitou cedo, porque estava muito cansada. Eu fiquei a conversar com os seus pais. Estava muito contente de poder pôr à prova o meu português e os pais da minha amiga estavam felizes de poder contar-me muitas histórias sobre os seus filhos.
Na manhã seguinte, tomei café com a Tânia, ela ainda sonolenta, de pijama, na varanda da sua casa, onde não se podia ver o mar (demasiado longe), mas podia-se ouvir o seu som.
Entusiasmada, contei-lhe a conversa da noite passada:
- Então descobri muitas coisas sobre ti e sobre o teu irmão: como ele participava nas corridas de bicicleta e como depois abriu a sua oficina de reparação de bicicletas na vila X. A tua mãe quer mostrar-me mais fotos hoje, mas mais tarde, depois do trabalho.
Enquanto eu estava a contar, a Tânia abria mais os olhos. Agora parecia acordada:
- Mas... O meu irmão não repara bicicletas na vila X... Ele vende peças de carros na cidade Y. E a minha mãe não vai trabalhar, ela cuida do seu neto durante o dia.
Depois de um momento, desatámos a rir, apesar de eu ter ficado também um pouco triste. Tinha ficado tão feliz de poder conversar em portugês! Mas era tudo na minha imaginação...
- Mas não te deves preocupar - acrescentou a Tânia, tentando consolar-me. - Falas muito bem, fui mesmo surpreendida, só precisas de mais prática. Além disso, aqui fala-se com sotaque, tens de te acostumar.
No fim das contas, foi naturalmente uma lição de humildade: não deveria estar demasiado confiante no que estou a "ouvir" (e deveria também ser mais cuidadosa com o vinho verde). Mas sobretudo fiquei surpresa com a capacidade da minha imaginação em colmatar lacunas!
Uau! Realmente isso é uma situação engraçada (e se calhar o vinho verde ajuda a dar asas à imaginação?), mas nada mau! Acho que conseguir ter conversado tanto tempo, com sotaques, e vinho à mistura, foi muito bom!
Também se nota muito, pela forma como escreve, que tem lido muito em português :) noutras coisas, nota-se que alguns deslizes na grafia das palavras devem vir de pensar na pronúncia, o que também é bom sinal.
Parece-me (e tendo em conta também o texto anterior que vi), que possa ter algumas dificuldades em distinguir "ser" e "estar" : https://www.practiceportuguese.com/learning-notes/ser-vs-estar-two-ways-of-being/ e outro artigo https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-uso-dos-verbos-ser-e-estar/24877 Espero que possa ajudar um pouco (e não criar mais confusão?)
Muito obrigada pelas correcções e ligações, Dinis, é de grande ajuda! Vou estudar tudo isso. O uso dos verbos "ser" e "estar" é efectivamente... sofisticado. Pensei que o tinha compreendido, mas uma coisa é ler as regras, e outra é pô-las em prática (o que faz os exercícios de escrita tão uteis - eles verificam "Tudo em todo o lado ao mesmo tempo").
Ora essa! E acho que com a prática e também ver/ler muito conteúdos em português, talvez se torne mais natural